Determinismo Estóico.
1. Introdução com objetivo da exposição.
2. Acepção de determinismo dos estóicos
até a física de Einstein.
3. Determinismo X Subjetivismo.
4.
Conclusão com opinião do aluno.
1. Introdução
com objetivo da exposição.
O presente
trabalho se destina a abordar um dos pontos mais estudados dos estóicos, seja
pela sua importância para a cultura ou ciências modernas, seja porque tal tema
é tido como o ponto mais polêmico na leitura desta escola, porquanto mesmo
sendo deterministas eles se ocuparam de doutrinas éticas atentando às
possibilidades de decisões melhores ou piores com potencial para consequencias
com os mesmo extremos.
Também há de se
registrar que houve divergência dentro da
escola no que tange ao absolutismo do determinismo ou não, ou seja, se haveria
algo que o homem, como entidade dotada de autonomia perante o mundo, poderia
fazer que alterasse o que já estava escrito para acontecer antes do nascimento
para toda a vida.
Então, o presente trabalho se destina
a tentar harmonizar essas aparentes contradições.
2. Acepção de determinismo dos estóicos até a física de Einstein.
Entender que o
determinismo permeia a vida é acreditar que o tempo é um limite meramente
psicológico do futuro, ou seja, tudo que ainda acontecerá já é previsível desde
o antes do agora. Outra forma de conceituá-lo é excluindo a possibilidade de
mudança de destino. Também é comum definí-lo em oposição ao livre arbítrio
porquanto se todos os acontecimentos já estão encadeados segundo uma força
incompreensível/misteriosa então vedada está a possibilidade do indivíduo tomar
decisões próprias. Esta última definição é comum, mas há um pequeno
esclarecimento a ser feito, pois mesmo adotando o determinismo é possível que
haja o livre arbítrio, ou seja, entendido como vontade individual de mudança;
mas nesse caso todas as escolhas da vida de uma pessoa já teriam sido por ela
tomadas antes do início, quiça nascimento, concepção ou até a separação do
espematozóide dentro do corpo do pai. Então o transcurso da vida ou cada
momento seria uma forma ou oportunidade de compreender as escolhas que já foram
feitas.
Chegando a
tempos mais recentes, um renomado gênio também se ateve a estudar o determinismo.
Einstein defendeu que o tempo era um limite de compreensão humana, ou em outras
palavras, o futuro já está escrito, pois o tempo é relativo a percepção humana,
mais extenso se fosse esticado. A partir desta ideia dedicou sua vida a
decifrar a equação do todo, aquela que explicaria como o mundo é. Mas ele
morreu sem sucesso em tal empreitada. Vale a seguinte citação:
“Ele via a
mecânica quântica de hoje como um estágio intermediário entre a física clássica
tradicional e uma “física do futuro” ainda completamente desconhecida, baseada
na teoria da relatividade geral, na qual os conceitos de realidade física e
determinismo voltariam à tona.”. [1]
3.
Determinismo X Subjetivismo.
O determinismo em nossa sociedade
contemporânea é comumente associado ao oposto do conceito católico de livre
arbítrio. Tal ideia significa que as pessoas fazem suas próprias escolhas,
sendo que o catolicismo ou em geral as religiões monoteístas explicam que deus
deu este poder a cada humano para que seja por ele exercido da melhor forma
possível. Mas, abstraindo a função religiosa de delegação divina temos que a
compreensão do livre arbítrio está vinculada a acepção do subjetivismo, ou
seja, que o homem é capaz de impor sua vontade perante o mundo, cosmos ou
sociedade.
Vejamos, o determinismo é a ordem dos
acontecimentos dentro de toda uma vida, a maneira como a eternidade se
apresentaria ao momento. Daí resta a primeira dúvida: a vida é sempre a mesma,
mas pode ser alterada e a partir daí fica tudo diferente, ou cada evento é
independente em relação ao evento anterior?
No primeiro caso, teríamos, quiça,
uma espécie de eterno retorno, ou em
outras palavras, viveríamos em ciclos previsíveis de acontecimentos que nada
mais são a forma com que a nossa vontade se expressa. Então mantida a vontade o
ciclo permanece fechado, ou seja, a vida da pessoa significa um filme cuja a
explicação pode ser de plano dada, algo como: tudo que aconteceu em sua vida
foi porque ele, no fundo de sua alma, em seu desejo mais íntimo, queria tal
coisa ou esperava tal coisa da vida.
Mas, admitida a hipótese de mudar a
sua vontade, o homem sairia do anel de acontecimentos e entraria em outro? Em
outras palavras, haveria determinismo ou previsibilidade até que o homem fosse
capaz de alcançar certo grau de compreensão da sua vontade. Neste momento ele
teria o poder de transmudar sua a realidade para outra. Daí surge uma dúvida: a
novel realidade também seria determinista? sim, mas tal determinismo só se
definirá no momento de entrada no novo anel, da maneira que para quem estiver no
novel anel não entrará no campo de ação do anel anterior e vice-versa, sendo, portanto,
uma singularidade o novo ambiente. Mas será uma singularidade em relação ao
mundo anterior, mas não em relação a seu próprio mundo, onde também haverá
previsibilidade intrínseca. Aliás, em termos avançados de compreensão do
determinismo, a realidade passa a ser um servidor do dono da vontade. É curioso
como existe um desejo natural do homem que sua imagem seja respeitada por
todos, pois para quem avança muito na compreensão de si próprio tal desejo é
suplantado por um ímpeto de compatibilidade com os acontecimentos. É como o
louco que superou sua loucura, pois como sua vontade é livre em relação a
vontade do meio social quando ele pretende conformar a realidade ele não
esbarra no susto social, pois o meio não alcança uma resposta a ele com uma velocidade
apta a opor contenção.
Na segunda hipótese, os eventos
seriam independentes entre si de maneira que cada acontecimento seria singular
em relação ao anterior. Tal hipótese pode ser descartada, pois o modo de pensar
humano é pautado pelos instintos e
também experiência. No primeiro caso
são manifestações imanentes a condição do homem de integrante da natureza. Já
no segundo caso trata-se do conhecimento de causas e resultados que são apreendidos
desde o nascimento. Em ambas as situações o cérebro humano não se desvencilha
do passado, portanto, hipótese que desconsidere o passado como orientador do
futuro pode ser de plano desconsiderada por atentar contra a percepção humana.
Somente a título de argumentação,
caso se queira dar significado a algo transcendental fico com a seguinte
afirmação de Tagore oposta a Einstein em um debate: “Se existir alguma verdade
completamente independente da humanidade, então para nós ela é completamente não-existente.”.[2]
Einstein discordou pois para ele o
cérebro humano é impotente perante a natureza, ideia que expõe toda a sua
crença determinista, não deixando espaço para livre arbítrio, subjetivismo.
Ouso discordar do gênio. A meu ver
tal crença é muito ligada as ideias de algumas crenças culturais/religiosas,
pois sofrem do entendimento de que a finalidade das ações é a base das atitudes
humanas, visão que não sobrevive se considerado que o homem é a medida de suas
atos. Em outras palavras, ainda que o mundo esteja em constante movimento, me
parece que de nada adianta ter sempre um objetivo, ou fim em mente, pelo
contrário a busca deve ser a adequação
ao movimento, com menos atenção em resultados.
Em suma, esse tema vai e volta várias
vezes, para sempre desaguar na principal questão: Não importa se o homem
acredita em determinismo, subjetivismo ou se preocupa com ética, pois o fato é
que o mundo é movimento e ante essa condição o homem deve dar uma resposta. E
tirado o véu das questões superficiais, a resposta será sempre a mesma,
independentemente da crença: a luta pela sobrevivência.
Os Estóicos, possivelmente, foram os
únicos filósofos antigos que esboçaram a hipótese de uma energia interna capaz,
por si só, de transmudar o que acontece. E alcançaram esse debate enquanto
aprofundavam seus estudos sobre o determinismo, pelo que não é possível dizer
se o que eles entendiam por individualidade é a mesma ideia que a psicologia.
No entanto, creio posso afirmar que se a ideia for a mesma a diferenciação
reside que a psicologia analítica ou junguiana segue a linha de que toda a
realidade tem como motor primário a mente do observador. Neste aspecto, Jung e
Nietzsche foram uníssonos em tratar a vontade como causa dos acontecimentos.
Pelo outro lado, o motor primário dos estóicos não se localizaria totalmente na
mente do observador. Acredito que se apresentamos os estudos de Jung aos
estóicos e os instássemos a se manifestar sobre a individualidade do homem
indagando-lhes se parte do motor primário estaria na mente do observador para
justificar a tal da individualidade ante o determinismo; a resposta seria que
não, pois o motor primário é Deus e a individualidade nada mais significaria
que o poder do observador de influenciar o motor primário.
3. Conclusão com opinião do aluno.
O
determinismo é uma realidade. Se esse mundo teve um início já interagia com seu
fim. Mas a questão que fica é porque não é incomum as pessoas que creem no
determinismo apresentarem uma individualidade imponente perante o mundo? Essa
não passa de uma aparente contradição, pois entre o desenrolar dos eventos
existem choques entre as pessoas e esses contatos imprimem as individualidades.
Então, o estudo da ética é compatível com o determinismo, pois ainda que o
futuro já esteja escrito o presente não se apaga e como vivemos nele devemos
enfrentar a realidade tal como ela é.
A isto
acresça a possibilidade de diakomesis, sistema finito que deus periodicamente
gera e destrói por atividade imanente,[3].
Penso que
o diakomesis pode ser a troca de vontade, conforme antes descrito, aquela em
que o determinismo/previsibilidade dentro do sistema é trocado por outro.
Somente divirjo do estoicismo quando se refere a deus como algo indeterminado,
pois quem muda seu sistema é o próprio homem. Desta maneira, quanto mais evoluído
no caminho da transcendência o homem for menos interferência no sistema ele
causará, pois se o sistema não se adequar naturalmente a ele, ele trocará o
brinquedo.
Pelo
visto, a única constante do mundo é a vontade do homem de conformar a realidade
a si próprio. Se assim for, a única ética que se pode ter é de apagar as
dependências do passado, de maneira que a conformação se dê no caminho da
autoafirmação. As principais técnicas para isto são se associar aos seus afetos
sem intermediários, pois terceiros apoiam a cegueira da realidade, enquanto
ofuscam a alteridade; e não ter medo de rejeição, pois rejeitar é um direito do
próximo; sendo que pela mão inversa não ter medo de rejeitar quem não for seu
afeto.
Bibliografia:
NIESTZCHE, Friedrich, Genealogia da
Moral, Companhia de Bolso.
NIESTZCHE, Friedrich, Vontade de
Potência, Editora Vozes.
EINSTEIN, os 100 anos da Teoria da
Relatividade, Editora Campus.
JUNG, Carl Gustav, O Livro Vermelho,
Editora Vozes.
VASCONCELOS, Ana, Manual Compacto de
Filosofia, Editora Rideel.
SÊNECA, Sobre a brevidade da viva, L&PM
Pocket.
OS ESTOICOS, editora Odysseus, organizador Brad
Inwood.
LAERTIOS, Diôgenes, Vidas e Doutrinas dos
Filósofos Ilustres, Editora UNB.
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