69 x 0 da Alerj e Aéreo 93 USA
1. Introdução
2. Toda Unanimidade é Burra
3. 4 x 1 – Último Recurso
4. Controle Operacional
5. Conclusão
1. Introdução
Em junho de 2020 a Alerj
atochou no Governador a abertura de impeachment pelo fantástico placar de 69 x
0, estando agora, enquanto esse texto é redigido, em prazo para Witzel entregar
sua defesa prévia. O motivo “real” seria suposta pressão que ele teria posto em
alguns Deputados, notadamente investigações contra eles, sejam essas oriundas
de grampos ilegais ou orientação informal do governo aos Delegados em
inquéritos sobre o crime organizado e suas ramificações. Motivo “dito real”
pois é o que os Deputados dizem a pessoas próximas a eles, mas mesmo que
acreditem nisso não é o que indica uma análise profunda ante o panorama
completo, como veremos.
Já o motivo alegado
formalmente no procedimento são as investigações da PF contra Witzel e sua
esposa no COVIDÃO.
Por óbvio, o motivo
alegado pelos Deputados estaduais RJ é piadista vindo de uma sede com metade
dos integrantes envolvidos em rachadinhas, alguns presos domiciliares, outros
em situações parecidas, porém todos juram inocência. Daí num processo cuja
principal prova contra o Governador é um contrato de advocacia de 15 mil Reais envolvendo
sua esposa fica evidente que a unanimidade obtida na Alerj pode ser muita coisa
mas não é nem de longe preocupação com suposta corrupção do Governador. Mesmo a
ciência dos 10 milhões de Reais supostamente apreendidos na casa de seu
ex-secretário de saúde na semana passada (apreensão feita após a data da
votação 69 x 0) justificaria esse placar.
Já no aéreo 93 os
passageiros só se insurgiram contra os sequestradores quando se deram conta do
atentado ao WTC através de telefones disponíveis no avião, e então passaram a
acreditar no tudo ou nada, ou seja, retomar o controle do avião ou morrer na
mão dos assassinos sequestradores.
Tudo ou nada dos
passageiros do 93 seria motivação equivalente à unanimidade da Alerj?
Analisemos!
2. Toda Unanimidade é Burra
Frase antiga e bastante
repetida no Brasil recente por famoso poeta. Sim, unanimidade é algo bastante
complicado de ocorrer aleatoriamente. E isso já vale por exemplo com 5 pessoas
opinantes, certamente 10 ou 20 já é muito difícil ocorrer a voz uníssona, daí
69 x 0 é um extremo que não acontece por acaso.
Por certo esse placar
significa algo mais forte do que a questão em si ou ao menos assim os Deputados
estão tratando a votação. Provável ressentimento por operações da PF prendendo
alguns Deputados nos últimos 3 anos em coordenação com o TRF 2. Apesar de Witzel
não ter participado dessas atividades ele integrava esse tribunal pelo que os
Deputados podem estar jogando toda raiva que sentem dos agentes criminais,
notadamente juízes e delegados, nele por ter sido juiz vinculado ao órgão que
expediu as ordens de prisão.
Sim, é incoerente, não há
qualquer motivo pessoal a atochar essa raiva no Witzel, pois além dele não ter
participado dessas operações ainda abandonou o cargo de juiz para entrar nessa
eleição de Governador. Logo além de não ser mais magistrado, e pelas regras do
CNJ nem mais poder voltar ao cargo, se aventurou no sistema eleitoral porque
não se sentia satisfeito na carreira de juiz. Assim, não faz a menor coerência
ou sentido os Deputados numa unanimidade extremely de 69 destilar todo o nojo
que sentem dos seus “algozes” do TRF 2 e da PF em cheio no Witzel.
Porém, a mente humana
funciona por segmentação e nessa perspectiva é compreensível que isso tenha
ocorrido, pois eles provavelmente ainda enxergam no Witzel a figura de Juiz do
TRF 2. Lamentavelmente, não há qualquer outra explicação que demonstre a
motivação do 69 x 0. Ou seja, certo é que os Deputados se autoinflingiram uma
necessidade de votar em bloco. Essa combinação, a razão pela qual todos grudaram
num rolo compressor tratado em zap é um mistério, pois ceder a própria
individualidade em favor do coletivo acusatório não é a tradição brasileira. Mas
algo contaminou a todos e por certo as interferências prisionais recentes do
TRF 2 são a causa per si mais contundente.
Reagir a supostos ataques é
válido, mas não contra o atacante errado. O abraço do afogado é
inevitável ante o desespero físico, mas não na tranquilidade de um gabinete de
Deputado da Alerj. Witzel não pensa como o grupo de agentes criminais que
agiram sobre a Assembleia. Ao contrário, ele talvez nem prenderia os Deputados
se tivesse sido o juiz que tratou do caso. Porém o abraço do afogado é isso
mesmo. Triste é ver essa atitude equívoca no “marasmo” de um gabinete
parlamentar.
3. 4 x 1 – Último Recurso
Houve muita informação
imprecisa sobre os atentados de 2001 inclusive vastas teorias da conspiração
tanto sobre a liderança dos ataques quanto sobre a execução. Mas considera-se o
veiculado no filme pois o Diretor Paul Grenngrass fez um excelente trabalho
investigativo que lhe permitiu a certeza necessária tanto para elaborar a
dramatização quanto para afirmar outros fatos paralelos aos ataques. Não há
nenhum motivo para descrédito no Diretor que já fez grande sucesso com a saga
Bourne e no presente caso se disponibilizou para fazer um filme documentário
com considerável pesquisa de campo num evento de interesse internacional.
Houve 04 sequestros de
aviões, todos bem sucedidos no que tange ao embarque dos terroristas e a tomada
da sala de comando da aeronave. Desses 04, houve êxito absoluto em 03 deles,
ataques às 2 torres do WTC e ao Pentágono, já o quarto caiu num gramado minutos antes de
atingir a Casa Branca, certamente o alvo mais ousado de todos por envolver a
defesa da Presidência do País e também pela história do próprio prédio com mais
de 200 anos.
O aéreo 93 da United não
atingiu a Casa Branca porque os sequestradores demoraram mais do que o
planejado para agir dando tempo para os ataques ao WTC serem passados aos
passageiros da aeronave pelo telefone da United pago com cartão de crédito. E também,
ante o retardo, a rota acabou ficando maior entre o momento que os sequestradores
agiram e seu alvo Casa Branca, da mesma forma dando mais tempo aos passageiros
deliberarem, para então executarem a retomada da sala de comando.
Como é de se esperar, os
passageiros só decidiram confrontar os sequestradores quando se deram conta que
eram suicidas como os do WTC. Daí era imperioso retomar o controle operacional
da aeronave.
A questão do último
recurso do 93, matar ou morrer, seria paralelo com a atitude de bando do 69 x
0: qual a semelhança psicológica do passageiro do 93 em decidir atacar os sequestradores
ou morrer, com o estado psicológico dos deputados que votaram coletivamente
pelo impeachment?
Certo é que quando se vota
em manada abandona-se a própria individualidade pelo que se está colocando os
interesses marginais como prioritários frente aos próprios interesses.
Essa atitude, vale frisar,
é comum no partido comunista chinês onde a preocupação com unanimidade é
premente.
Claro tanto no caso do 93
como no governo carioca o controle operacional é relevante. No avião se
não retomado o controle da sala de comando iam todos explodir na Casa Branca.
Já no governo, seja na presidência chinesa ou no impeachment 69 x 0, a figura
do líder administrador dos cofres públicos é o foco. No 93 só houve unanimidade
diante da morte certa, já no 69 x 0 a unanimidade pode até ter algo da
presidência chinesa como um ódio a controvérsias no ambiente do líder supremo,
provavelmente para o povo mandarim se impor como cultura aos demais países.
No seio da Alerj a casa
está diante de uma novidade no governo: um cidadão que saltou de paraquedas nas
eleições e por “ironia do destino” logrou êxito inclusive contra um renomado
candidato, Paes. Witzel não vê os deputados como inimigos, mas a recíproca é
outra. Então se fizermos a mesma analogia do partido chinês resultaremos que a
Alerj reconhece no Witzel um estrangeiro, e por isso digno de desconfiança,
sendo esse o motivo pelo qual todos aderiram a uma suposta necessidade coletiva
de se manifestarem por unanimidade.
Esse é um contundente erro
estratégico. Não foi Witzel que prendeu deputados nos últimos anos. E ainda que
o acusem de ter integrado o TRF 2 de onde saíram as ordens de prisão isso
também estaria superado, pois Witzel tomou a difícil decisão de largar o cargo
de juiz federal que tem estabilidade ao contrário de cargo eleitoral que
demanda renovação e ainda ganha mais que Governador, não só no salário oficial,
mas também nos penduricalhos de contracheque. Sem falar nos 2 meses de férias.
Logo, mesmo aos deputados
certos de que a Alerj foi gravemente sacaniada pelos juízes do TRF 2 que
cuidaram das operações da PF ainda assim não há como atribuir tal mal estar ao
Witzel, tanto porque ele não oficiou nesses casos, quanto porque ele abandonou
o TRF 2 para se aventurar nas eleições sem qualquer garantia seja de um lado ou
de outro. No lado do TRF 2 não mais poderia voltar, pois essa é a orientação do
CNJ. E no caso da eleição ele não tinha nenhum apoio visceral de qualquer
cacique famoso nem outro motivo para vencer, tendo sido uma grande zebra,
segundo expressão carioca.
4. Controle Operacional
Existem situações em que o
controle operacional torna indivíduos uma só “embarcação”, como é o caso de um
avião de passageiros onde um piloto pode ceifar a vida de todos. Esse panorama
é consequência do uso da tecnologia, pois numa tribo indígena não há
equipamentos, como barcos, naves, metralhadores, bombas até de destruição em
massa como as nucleares as quais possam garantir a intervenção de uma pessoa
impelindo a morte a nível de massacre. Ainda que numa tribo se possa atribuir
considerável liderança ao cacique se ele enlouquecer e quiser matar alguém não
pode simplesmente apertar um botão de bomba ou metralhar dezenas de índios.
Então, vale decifrar o
real significado do controle operacional à coletividade que dele dependa, assim
como apontar os fundamentos estruturais que se estabelecem entre as pessoas que
estejam enquadradas, ou seja: até que ponto se está no mesmo barco que
outrem?
Claro no caso do 93 o
liame é evidente. Ou os passageiros se uniam pra retomar o comando ou
morreriam. Nessa situação extrema a questão é de fácil visualização, exatamente
ao contrário do 69 x 0, pois a tentativa dos deputados de retirar o controle
operacional RJ do Witzel é fruto de revolta de péssima pontaria.
Os Deputados RJ não ganharão
nada retirando o comando de Witzel, pois ele não é uma “menininha do
judiciário”. Ao oposto ele largou seu cargo no TRF 2. Se ao que tudo indica estando
os Deputados imitando o partido chinês em votar por unanimidade estão fazendo
de forma totalmente destrambelhada se considerada a relação entre meios e fins
dos políticos chineses e a finalidade visada pelos Deputados RJ. O Witzel não é
o TRF 2 sequer representa concretamente qualquer valor da carreira de juiz,
enquanto que a Alerj não é a China, muito pelo contrário, o Rio é um recente
caldeirão cultural unindo valores europeus, africano nativos e indígenas dentre
outros face a cultura milenar chinesa cujo um dos maiores símbolos é a muralha
construída por séculos com a motivação de separar os valores internos mandarins
dos princípios das além pátrias.
Witzel capotado do governo implicará na posse do vice de maneira que não chega a ser a queda de avião
com a morte de todos, porém o fato em si demonstra um caminho nebuloso na
medida que os deputados RJ estão tão cegos em seu ódio ao TRF 2 quanto os
sequestradores estavam cegos em seu ódio aos valores dos EUA. Quiçá até mais,
pois os sequestradores atribuíam o ataque a ordens transcendentais, enquanto
que os Deputados RJ não estão agindo motivados pela sua fé particular, mas por
um sentimento de vingança totalmente despropositado, ou seja, sem conexão entre
o meio empregado e o fim visado.
No caso do 93 o controle
operacional ficou na mão de religiosos que acreditavam agir a serviço de divindade
bíblica que ordenava atacar o povo dos EUA. Os sequestradores iriam matar não
só os passageiros, o que de outra forma aconteceu na queda, como também os
trabalhadores ou passantes da Casa Branca, podendo inclusive assassinar o
Presidente, pois no filme consta que não se sabia o avião estava a poucos
minutos de explodir o palácio presidencial. E, mesmo considerando a bateria
antiaérea do prédio os sequestradores estavam treinados para atingir o alvo com
alta velocidade o que gera dúvidas se esse aparato defensivo seria de alguma
utilidade.
O fato é que no jogo de
vida ou morte desses atentados o principal objetivo dos sequestradores não foi
alcançado por medidas defensivas internas do seu “próprio aparato”, pois
tomadas pelos passageiros da aeronave sequestrada, enquanto que nenhuma medida
defensiva geral de espaço aéreo ou defensiva do prédio estava em andamento.
No caso da Alerj não há
nenhuma medida defensiva interna que possa ser empreendida pelo Witzel, pois o
impeachment é procedimento iniciado, instruído e concluído na Alerj, com
pequena participação do judiciário na conclusão. Assim, no impeachment atroz do
RJ não há passageiros que possam dar combate ao plano vingativo.
Então, se o ímpeto
vingativo dos deputados for no mesmo nível dos sequestradores do 93 nada
salvará o RJ do afastamento de seu governador de forma horrivelmente injusta e
covarde.
Curiosamente o filme dá
ênfase num passageiro aposentado que já pilotou pequenos aviões e por isso
saberia pousar, pois os pilotos originais estavam mortos. Então, ele disse aos
lutadores que iriam enfrentar os sequestradores que a aeronave estava voando
muito baixo e por isso assim que invadissem a sala de comando o
piloto-sequestrador deveria ser imediatamente imobilizado. Infelizmente ficou
só no aviso, pois o sequestrador lutou com todas suas forças para continuar na
cadeira conduzindo o avião até a Casa Branca pelo que acabaram caindo e matando
todos a bordo após instantes de combate entre alguns passageiros e ele.
5. Conclusão
Por evidente, crucificar
Witzel é mera estupidez. Não é ele o “estranho” ou “estrangeiro” sacaniador do
TRF 2. Pelo contrário, se tem alguém inocente nessa suposta sacanagem é ele,
pois saiu do TRF 2 com uma mão na frente e outra nas costas. E deixou a
carreira de juiz exatamente para ingressar no campo dos supostos sacaniados, cargos
eleitorais. Capotar o governo do Witzel é além de inútil instrumento de
retaliação ao TRF 2 como ainda é ataque a quem largou o judiciário para agregar
o sistema eleitoral. A expressão “tiro no pé” cai como uma luva no 69 x 0 dos
Deputados RJ. Pena que não serão só os deputados que pagarão o pato dessa
insanidade, serão também todos moradores do RJ. É que retirar um Governador
atuante para colocar um vice sem expressão no cargo principal do RJ com seu
histórico trágico recente não tem como não dar ruim. Bem, bem pior do que já
está.