Grito Ateniense
por Apocalipse
“Quando a Terra é avistada da Lua, não
são visíveis, nela, as divisões em nações ou Estados. Isso pode ser, de fato, o
símbolo da mitologia futura.”[1]
1.
Introdução.
2.
Atená Versus Curupira.
3.
Constituição em Desespero.
4.
Mitologia da Submissão ou Apocalipse.
5.
Conclusão.
1.
Introdução
A sociedade nunca esteve tão conectada de
maneira que a era da comunicação sonhada por muitos em meados do século XX
chegou com toda força.
Porém
não como o esperado, pois ainda que o planeta não esteja mergulhado em guerras
como ocorreu ao longo dos últimos milênios estamos envoltos nos piores
sentimentos catalogáveis: vontade de deixar de existir, raiva de tudo e todos
com acusações bulyanas de péssimo gosto, em suma um certo sabor que força
superior só nos mantém vivo por algum interesse sórdido ou escravista.
Ou
em linhas gerais, viver nesse planeta é o verdadeiro inferno bíblico, algum
tipo de punição pelo que teríamos feito, mas esquecido; ou alguma sacanagem
engendrada por forças mais elevadas do que a que temos contato em nosso
cotidiano.
Certo
é que para o bem ou para mal, nesse início do século XXI a humanidade chegou a
um “portal”, o global. Ainda que ao longo do século passado tenhamos chegado
perto de nos unificar como linguagem planetária em razão de avanços
tecnológicos, como comunicação por satélite, viagens de avião, adoção do vocabulário
inglês como internacional e claro a criação da ONU; tal marco não foi
alcançado.
Somente
com a suposta pandemia do Coronavirus que passamos a agir em parâmetros
mitológicos como povo único do planeta. Nada importa se essa suposta pandemia é
fraude, sendo a OMS uma entidade internacional dirigida por estelionatários ou
se a mídia aloprada assoprou o terror do vírus chinês agindo como autêntica
rede de prostituição tão profissional quanto o mais sofisticado puteiro de
Roma. Mesmo assim, o fato é que todos países responderam a essa crise como povo
do Planeta. Isso nunca aconteceu antes e jamais seremos os mesmos diante das
experiências que compartilhamos.
Daí nunca
foi tão importante refletir como agiremos daqui para frente, pois o parâmetro
mudou, não haverá espaço para voltarmos ao cotidiano de antes dessa suposta
pandemia, não pelas questões médicas ou sanitárias, sim por conta da unidade de
reflexões e consequentemente de padronização nas respostas institucionais ao
longo de 2020. Ou aprendemos a lidar com essa nova realidade ou muitos serão
dragados por ela donde os sentimos de raiva comuns atualmente tenderão ao longo
dos próximos anos a tornar nosso cotidiano mais insuportável ainda do que já
está diante das acusações gratuitas e das reclamações ignoradas a que já
infelizmente nos acostumamos, notadamente em redes sociais pela internet.
2.
Atená Versus Curupira.
Faremos
uma revolucionária comparação de uma personagem mitológica grega e uma entidade
mitológica indígena brasileira em ordem a transparecer e situar “cosmicamente”
a importância do mito de inversão.
“Os
Mitos de inversão guardam a função de constelar, na fantasia humana, uma imagem
de “vingança” para a híbris (excesso agressivo) humana que fundou a cultura”
Mitos, Folias e Vivências. Isabela Fernandes. Editora Bapera, página 55.
Desde
já fica clara a natureza fundamental do personagem de inversão pois ele é o elo
atemporal entre acontecimentos passados e futuros. Ou seja, através do
conhecimento da dinâmica da entidade descobrimos a real importância dos fatos
mesmo quando nos deparamos com estórias decaídas tais como as causadas mediante
reação em cadeia[2].
Então,
temos em Atená a filha que toma o poder do reinado principalmente do seu Pai, Zeus,
num cenário de mundo alquímico, a civilização grega. Já no caso de Curupira
temos a entidade que toma[3]
o caminho do caçador o qual afeta o cenário de sua tribo quando não respeita a
caça ou quando legitimamente necessita de auxílio, porém num ambiente sem
alquimia notadamente as matas brasileiras.
Atená
é a figura responsável pela institucionalização da pólis, através do senso de
julgamento. Lado outro Curupira também assume essa responsabilidade de garantir
integridade institucional, porém de forma ilimitada sempre atrelada aos
instintos humanos naturais. Enquanto Atená apela a um suposto senso de razão
para separar o adequado do inadequado, Curupira age com pura simplicidade
impondo seu critério sem uma análise laboratorial.
Evidente
que a institucionalização promovida por Atená não poderia afastar o princípio
do auditório onde a vontade de maioria deve prevalecer face a minoria em algumas
questões como o julgamento criminal, porém Curupira não apela jamais ao certo
ou errado, ao incluso ou ao banido, ao normal ou ao grotesco, sua preocupação
como entidade protetora das matas é manter um equilíbrio entre protagonistas e
cenário mais precisamente entre tribo e floresta.
Adentrando
na psicologia analítica Atená define uma particularidade em relação ao
Curupira: a necessidade de afirmar que se a anima confrontar o animus aquela
levará a melhor, ou seja, como a mulher é a casa e o homem o invasor dela no
que tange ao sexo então cabe a mulher decidir quem a invadirá. E ainda, o poder
de esconder quem a invadiu, como exemplo engravidando do amante, mas atribuindo
a paternidade ao marido.
E, é
por isso que Hesíodo separa homens e mulheres como duas faces da mesma moeda e
atribui ao homem a face normal e à mulher a face malévola. Aqui mesmo sem
intenção Hesíodo está atribuindo a mulher super poderes perante o homem e concomitantemente
instituindo a importância da prole especialmente ao casal:
“E
assim também Zeus, que estrondeia nas alturas, enviou aos homens mortais um mal
maior: criou as mulheres, que se ocupam em obras malévolas.” Teogonia. Verso
600.
Nas
tribos indígenas brasileiras não é a regra casais rígidos ou duradouros bem
como a passagem de herança. Daí pouco importa se a mulher vai “chifrar” o
homem, ao contrário da mitologia grega onde mesmo quando o chifre é consentido
pelo marido ele acaba por pesar na cabeça do “dono”. Numa tribo onde o mito de
inversão é Curupira cujo androginismo protege as zonas fronteiriças não há
porque chamar um homem de chifrudo.
Aqui
vale diferenciar a hibris indígena brasileira da hibrys européia:
“Nada
de novo pode surgir se não vier acompanhado de uma hibris. No Mito do Gênesis a
hibris do casal resultou na expulsão do paraíso, porém o homem adquiriu um
conhecimento divino que possibilitou sua emancipação em relação a deus...”. A
vida, a Morte e as Paixões no Mundo Antigo. Isabela Fernandes. Editora Cassará.
Página 112.
Na
mesma linha o famoso mito de Pandora onde mesmo advertida a não abrir o vaso[4]
ainda assim ela ultrapassou a recomendação e todos caíram nas desgraças dos
males.
Porém,
interessante saber é se existe algum efetivo avanço na citada emancipação
divina? As circunstâncias laboratoriais onde é possível a razão crivar o
julgamento do certo ou errado, do incluso ou do banido é realmente superior
como preleciona a mitologia grega? Ou certeira seria a mitologia do Curupira
que se limita tão somente a avaliar equilíbrio entre mata e tribo?
Como Atená é a deusa que instituiu a pólis, encampando
inclusive a liderança de Zeus, nessa simbologia ela virou o mito de inversão do
povo europeu significando ao velho continente que Família é relevante e dentro
dela se não houver respeito especial a mãe por todos seus integrantes ela
esculhambará o pai e todos sofrerão as consequências.
Já
no caso do Curupira não existe essa guerra entre sexos. Sua atividade não
envolve qualquer artimanha sexualizada ao contrário de Atená. Nem tão pouco faz
diferença o sexo de suas “vítimas” somente lhe interessando eventual
perturbação que possam causar aos animais da mata. O excesso agressivo do
caçador é configurado, porém vingança a ele é individualizada, ao contrário da
polis onde o plano vingativo envolve outras pessoas, notadamente num cenário
alquímico em que o réu é tratado como rato num laboratório farmacêutico.
Essa
perspectiva sombria é mais uma experiência com intuito de lucro que efetivo
procedimento investigativo, ao contrário do julgamento do Curupira face a
hibris do caçador onde os danos são contidos mantidas as atitudes individuais.
Não
é à toa nos julgamentos sociais o sentimento de manada sempre prevalece.
Sócrates que o diga, só para lembrar o mais emblemático caso da própria Grécia.
Provavelmente o máximo de “julgamento[5]”
que a espécie humana está apta a fazer é o eleitoral, dado ser competitivo pela
opção entre candidatos; e dado ser feito em perspectiva em razão do candidato
ser julgado pelo seu passado, mas para servir ao futuro.
O
julgamento eleitoral afasta a problemática do mito de Prometeu e Epimeteu[6]
na medida em que o tempo não é cindido. Ou seja, numa eleição todos estão bem
posicionados no que tange a responder os estímulos do ambiente. É que se
escolhe um candidato e depois pode-se tirá-lo, através de medidas como
impeachment no presidencialismo ou no parlamentarismo pelo voto de desconfiança.
Já
no julgamento criminal prevalece o sentimento protetivo de ovelha numa manada,
pois os jurados agem como Prometeu ou Epimeteu, nunca tendo a visão do todo. Ou
os jurados se identificam com questões motivacionais da percepção do julgado e
o absolvem, ou ignoram essa percepção e o condenam. Infelizmente é simples
assim que funciona qualquer julgamento criminal no Planeta. É que se o jurado
olha para frente e aí se identifica que a acusação contra o réu pode vir a ser
aposta a si então o absolve. Já se o jurado não vislumbrar que acusação
equivalente poderia um dia cair contra si então condena o réu, pouco importando
o afeto a eventual vítima, em qualquer caso.
Fraqueza
humana ou não. O fato é que a humanidade não sabe, quiçá não possa, julgar seu
semelhante, mesmo num ambiente institucionalmente criado para isso como os
tribunais. E isso pode ser ilustrado pela comparação entre Atená e Curupira,
sendo a primeira deusa da justiça e sabedoria, mas institucionalizando uma
cidade que ficou famosa pelos julgamentos arbitrários. Já Curupira nunca se
apresentou como salvação de nada, no entanto seus julgamentos sobre auxiliar ou
sabotar caçadores é por todos respeitado mesmo mediante um critério que não
pode ser quantificado ou racionalizado:
“O
Curupira é uma máscara híbrida e demoníaca, um rosto sagrado de várias faces.
Ele pode ser o ogro devorador, mas também é um guia espiritual de ritos de
passagem.” Mitos, Folias e Vivências. Isabela Fernandes. Página 45.
Todos
esses elementos intuitivos convergem que o detentor de tecnologia, no caso
Atená, tem uma ferramenta mais versátil do que aquele que não aplica alquimia,
no caso Curupira. Mas quanto mais sofisticada é a ferramenta maior a
possibilidade de seu detentor se tornar opressor. Atená além de ser tida como questionável
deusa virgem ainda é sempre relacionada como a herdeira de Zeus, circunstâncias
que elaboram a ideia de passagem de herança, tanto pela necessidade de algum
namorado receber do pai a menina supostamente intocada quanto pela importância
de integrar uma família composta de patrono com posses.
Em
palavras analíticas, tanto a introversão quanto a extroversão de Atená se ocupam
a influenciar figuras masculinas, seja seu pai ou namorados, ora utilizando a
herança como elemento objetivo ora utilizando o ventre como elemento subjetivo.
No
entanto a mitologia grega nunca questionou esse lado trikster ou malandro de
Atená ou como diriam hoje feminazi[7]
porque seu personagem se encaixava com a cultura da época, conforme referência
a Hesíodo citada. Somente 2500 após a literatura passou a questionar esse
modelo cultural dominantemente ocidental:
“Podemos
notar que o elemento da realidade trazido por uma mulher equilibrada não é
representado na deusa ou em uma figura ideal como a Virgem Maria. Juntar todos
esses aspectos paradoxais do feminino e saber como relacioná-los, é uma das
grandes dificuldades.” Animus e Anima nos Contos de Fadas. Marie-Louise Von
Franz. Editora Verus. Página 79.
Já
Curupira não perde seu tempo se dedicando a convencer o sexo oposto, ou o
próprio se é que ele se identifica.
Só
nos resta concluir que o mundo alquímico é uma realidade que nos permite
modificar a natureza muito além da realidade do Curupira. No entanto, se essa
modificação causada na mata do personagem indígena tornar a realidade cega no
equilíbrio entre civilização e Planeta de nada terá servido a suposta
emancipação divina.
3.
Constituição em Desespero
A
Constituição de 88 tem três problemas fundamentais os quais garantem meios de persistência
ao que deveria combater. É que a lei de um país deve ser instrumento do povo
para o povo. E a Constituição de 88 é documento destinado ao stablishment, ou
seja, a Carta da Assembleia Constituinte é uma fraude pois cria instituições
caras, em excesso e sem sistema de freio e contrapesos, os quais ao invés de
tornarem a vida do “bonde do stablishment” um pesadelo faz o contrário lhes
oferece o paraíso.
Os
três problemas fundamentais estão no sistema criminal onde se hipertrofia a
acusação e se atrofia a defesa; no judiciário onde se cria um carreirismo caro
e corporativista; e no geral em várias instituições como tribunais de contas,
legislativos, procuradorias jurídicas e depois de 88 ainda criaram agência
reguladoras ineficientes onde a título de se dar autonomia funcional a esses
órgãos inventaram verdadeiros monstros devoradores que servem mais a perversão
do stablishment do que ao povo.
No
que tange ao segundo e terceiro problemas não há muito mais a ser dito.
No
caso do judiciário, a carreira de juiz só se compatibiliza sistemicamente com o
stablishment. É que um judiciário a servir ao povo deve ter mandato para juiz e
não profissão de juiz. No Brasil quando se diz que a carreira de alguém é juiz
o lance desanda, o cara só pensa no status governamental, pelo que servir ao
povo quando muito vira tarefa secundária.
Mudar
isso não é difícil, só alterar a Constituição mantendo o funcionamento dos
tribunais de julgamento com seus servidores e toda sua estrutura somente
excluindo a carreira de juiz e a trocando por mandato ao máximo 04 anos, daí
criando meio de escolha permanente vindo de órgãos da sociedade civil, de
governantes, de integrantes dos próprios tribunais, por eleição e de servidores
de outros órgãos públicos, por indicação.
É um
meio rápido, simples e eficiente de tornar o judiciário brasileiro sério e
eficiente cujo o único obstáculo seria o corporativismo dos juízes atuais e dos
beneficiários do stablishment, notadamente no congresso.
Quanto
às autonomias de vários órgãos os tornando caros e ineficientes a saída é
extinção de alguns e restruturação de outros, mas voltamos ao problema anterior,
vontade do congresso.
A
problemática mais profunda que envolve a mitologia tratada no capítulo anterior
está no sistema criminal. A Constituição de 88 agravou a problemática já existe
existente na maior parte dos países quanto ao julgamento criminal exposta pelo
mito Prometeu/Epimeteu. É que no Brasil além da cegueira de um dos olhos
exposta pelo mito citado quanto a súmula do júri se identificar ou não com a
percepção do réu, a nossa “querida” Constituição de 88 ainda criou outra cisão
no julgamento social: transformou a acusação num estorvo que se senta ao lado
do juiz ao invés de ficar de frente para a defesa. Só existe paralelo ao que
acontece no Brasil nos piores eventos medievais quando a igreja perseguiu
cidadãos para compatibilizar a cultura europeia as suas próprias doutrinas.
A
cisão criada pela Constituição de 88 faz com que o stablishment seja alçado ao
nível de política pública. Ou seja, o cidadão deve se compatibilizar com o
pensamento do governo ou sofrer as consequências. É inacreditável o nível de
arrogância que nossa Constituição franqueia ao prestador de serviço público no
Brasil.
Todo
o sistema criminal é treinado para ser uma engrenagem do governo desde que para
os próprios interesses da máquina pública, e atacando todos aqueles que
levantam a bola que o salário dos servidores públicos é pago com dinheiro de
impostos os quais são recebidos impositivamente, ao contrário do compromisso do
empresariado de prestar um bom serviço para produzir renda.
Certo
é que regulação é atividade estatal, mas deve ser feita com motivação e
prestação de contas, jamais como é “cuspida” atualmente num varrimento de cima
para baixo sob pena do cidadão questionador sofrer ataques absurdos quando
contestação legítima for aposta expondo a “porcalhada” dos agentes do
stablishment.
Apesar
do título desse capítulo “Em Desespero” não é a Constituição vigente que está gritando,
são os deputados que a fizeram em 88. Inventaram no papel um país inexistente
na medida que promete bons serviços básicos a todos. Ou seja, pintando o pleno sem
entregar ao “povão”; e dando o que não deveria ao bonde de ladrões do colarinho
branco do stablishment, sejam aos cargos eleitorais, cargos em comissão ou
cooptando os concursados.
Em
suma, superadas as lorotas do papel que não existem na realidade o maior fardo
do brasileiro outsider stablishment é a carga tributária altíssima sem
correspondência com o dever da boa prestação de serviços cuja válvula ladra
escoa a verba para pagar salários e outras benesses inadequadas a estrutura
governamental.
É
impressionante que o país não tenha se afundado numa guerra civil ou miséria
grotesca pelas ruas. No abraço do afogado, o desespero faz com que o náufrago
se agarre ao salvador e ambos morram.
Se
não derem cabo da ideologia que sustenta a Constituição de 88 logo não passará
uma década os impostos para pagar folha salarial do serviço público impedirão a
livre economia no país. A fome vampiresca dos ladrões do stablishment os torna
cegos na questão orçamentária. Daí, no depender deles sugarão toda a vitalidade
da iniciativa privada da mesma maneira que o abraço do afogado: o stablishment
se agarrará ao produtor de renda e o levará ao afogamento se esse insistir em
tentar salvar aquele.
A
única salvação para o salva vidas brasileiro é abandonar o náufrago a sua
própria sorte, ou seja, tornar o serviço público enxuto e a partir daí exigir
que toda manifestação de servidor público seja motivada de acordo com os
anseios gerais da nação.
4.
Mitologia da Submissão ou Apocalipse.
Abordagem
mais profunda do texto é averiguar conselho comum da sociedade brasileira no
sentido que os dois meios para “sucesso” no Brasil são roubando ou enganando,
opção a ser feita quando não for possível empreender os dois ao mesmo tempo.
Pois
bem, como encaixar esse life style de boa parte dos brasileiros em um panorama
mitológico? Simples por uma resposta superficial, mas complexo para quem
efetivamente pretender enfrentar a mecânica desse pensamento que de tão
enraizado na cultura brasileira virou verdadeiro estilo de vida. É que
aprofundando a diferença entre o modelo tribal do Curupira e o modelo
civilizatório de Atená nos deparamos com os mitos criacionistas.
Os
chamados “mitos de criação” são aqueles em que o enredo principal é narrar os vínculos
mais básicos de uma sociedade. Como na mitologia não há a imprescindibilidade
da demonstração laboratorial científica, tais mitos focam não na gênesis em si
mas nos resultados mais imediatos de sua ocorrência.
“Nos
mitos de criação, o nascimento dos filhos e netos dos pais primordiais
configura uma transgressão da ordem familiar arcaica. Por isso, em quase todas
as cosmogonias das grandes civilizações, cria-se o cenário simbólico de um
conflito entre as gerações, muitas vezes tomando a forma de uma guerra cósmica
entre pais e filhos.” A Alma Brasileira. Luzes e Sombra. Isabela Fernandes.
Editora Vozes. Página 227.
A
Mitóloga está se referindo a regra geral das cosmogonias europeias. Porém tal
construção é ocorrente em todas culturas em que há tecnologia, possivelmente
porque nesses locais as pessoas se acostumam com situações mais estáveis como
trabalhar num moderno prédio ou morar numa casa com estrutura exagerada e a
partir dessa sensação de segurança acaba-se gerando uma crise de confiança.
Um
modelo um tanto excepcional a esse conflito familiar das civilizações
tecnológicas é a China. Mas lá uma doutrina filosófica existencial acabou por
trilhar caminhos protetivos a dependência da tecnologia. De fato, o I Ching tem
como premissa que não existem coisas, eventos, situações ou qualquer
possibilidade do ser humano estar completamente seguro.
Esse
anseio por estabilidade acabou prevalecendo em quase todas civilizações
tecnológicas com exceção da China pelo forte valor cultural do I Ching:
“O
princípio no qual se baseia o I Ching encontra-se em profunda contradição com a
concepção do mundo ocidental, científica e teleológica. Em outras palavras, ele
é extremamente anticientífico e, arriscaria até dizer, proibido, uma vez que é
incompreensível e foge ao nosso juízo científico. O Segredo da Flor de Ouro. Um
Livro de Vida Chinês. Jung e Wihelm. Editora Vozes. Página 13.
O
fato é que o I Ching é um panorama de interação homem face armadilhas
sistêmicas pelo que apresenta esquemas que visam protege-lo da tecnologia,
assim como a pátria Mandarim construiu a famosa muralha para proteger o chinês
do estrangeiro.
Ao
que parece a China desde seus primórdios intuiu o que o Mitólogo Joseph
Campbell expôs em sua famosa e longa entrevista ao seu amigo jornalista, O
Poder do Mito: a tecnologia tem algo que sugere vontade, ou seja, ela parece
apresentar certo grau do que se convencionou chamar de consciência. Campbell
ainda manifestou certo espanto por “sentir” que os primeiros computadores
pessoais pareciam ter certa vida própria.
A
China parece ter sido a primeira cultura que a nível institucional criou uma
“doutrina” com a pretensão de proteger o homem das armadilhas no uso da
tecnologia. E, apesar de seu excelente pioneirismo não foi seguida pela cultura
geral do ocidente, a qual até hoje não se deu conta da possibilidade tecnológica
em ocultar algum esquema nocivo ao homem. E essa habilidade ou atribuição não é
a espionagem que os EUA estão acusando o 5G da China. O poder oculto e
ameaçador da tecnologia é mais no sentido de uma autoleitura dos acontecimentos
do que um monitoramento na mão de fofoqueiros ou oportunistas.
Ignorando
essa ameaça o que se nota nas ciências acadêmicas ocidentais é tratar o
conhecedor da tecnologia como sinal de inteligência e por isso digno de
confiança. Dessa maneira descuidando dos avisos do I Ching. O povo chinês
deveria ser bastante estudado para se verificar a linha de raciocínio que
culminou em sua avançada doutrina e em contraste a essa análise estabelecer
porque nenhuma outra cultura geral alcançou tamanha percepção.
Devemos
nos unir globalmente em torno dessa apuração. Utilizando a expressão de
Nietzsche, fazer a genealogia do I Ching e partir dela traçar a genealogia das
demais culturas ignorantes nas tramas da tecnologia. Precisamos, assim
esclarecer de onde veio a visão da China a compreender melhor a realidade
ardilosa que sustenta a alquimia, e lado outro a fraqueza das demais em
culturas e creditar aos tecnólogos uma referência intelectual.
Curiosamente
não existe alquimia sem tecnologia e vice versa. Sem um não há o outro apesar
de serem conceitos diversos. Tecnologia num parecer consistente levará em conta
seu poder exploratório na medida que permite transformar algo abstrato em
concreto. Já alquimia é o meio pelo qual o homem utiliza a tecnologia. Alquimia
é a ponte entre o homem e aparente poder de realização aparentemente ilimitado.
No
entanto, ainda que essa explicação soe bastante sofisticada na prática é pouco
utilitária. Poder de realização é algo muito duvidoso quando não azarento. Mais
importante do que ser capaz de realizar algo é saber se aquilo realmente será
de boa aplicação. Fazer só para mostrar se é capaz não tem se mostrado uma boa
atitude ao longo de toda atividade humana.
O
fato inequívoco é que tudo na alquimia implica em sedução, notadamente sexual,
em última análise. Somos treinados desde que nascemos para sermos enganadores
ou enganados reciprocamente nessa atividade. O trabalho em empresas, no
militarismo, no serviço público, toda a sociedade dita civilizada gira em torno
de um status que sirva como moeda de troca a alguma atividade sexual pautada
por enganação. Então se a alquimia é o instrumento entre o homem e sua vontade,
só podemos concluir que a natureza da espécie humana é de predadores sexuais.
Por
isso que quem pensa fora da caixa é comumente atacado. Trata-se da mitologia da
submissão reinante no planeta Terra. Enquanto se está no carrossel da oposição
sexual, inicialmente macho face fêmea, todos devem cantarolar a música da
venalidade nesse sentido.
E
esse giro coletivo é a temática de fundo tanto do Mito do Paraíso quanto de
Pandora. Senão vejamos, Adão e Eva assim como Pandora viviam cerceados de tranquilidade.
Mas a curiosidade levou ao apocalipse. Porém a indagação “extremely” sobre
esses mitos é: Porque descobrir o funcionamento periférico ao cotidiano implica
num apocalipse que os joga numa vivência desgraçada?
Sim,
a resposta a isso está diretamente relacionada a enganação na alquimia para
viabilizar o carrossel sexual. Na floresta não existe nada oculto que se
descoberto gerará desgraça. Já na civilização parece as pessoas que se dedicam
a problematizar questões periféricas acabam por se ver na mesma desgraça de
Pandora, após ela abrir o vaso.
E o
conteúdo esse vaso é o que o I Ching já milenarmente previu como as armadilhas
da tecnologia. O povo chinês foi muito preciso nesse estudo. Acertou que não há
como negar a tecnologia. Não há como todo o planeta retroceder ao estágio
tribal do Curupira. Daí, a maneira de lidar com isso é primeiro aceitar que o
uso da tecnologia nos sujeita a armadilhas. E após essa aceitação criar normas
de conduta que viabilizem o uso da tecnologia sem se afogar em seu mal uso.
É
essa a proposta do I Ching !
Já a
proposta do “american way of life[8]”
é esgotar os recursos da tecnologia.
É
impossível saber onde o planeta chegará liderado pela cultura chinesa, inclusive
porque os próprios mandarins dizem que o I Ching não pode garantir sucesso no
máximo tenta proteger, impor escudo. Já se o planeta se unificar sob uma
liderança que não trabalhe com a hipótese das armadilhas ocultas na tecnologia
chegaremos ao apocalipse: veremos onde não podemos ver agora e pode ser que
esse novel panorama seja bem pior que o atual.
No
mais, a cultura da submissão nada mais é que reflexo de um componente presente
no uso da tecnologia. Por isso ela está ativa em todas civilizações onde há
alquimia, inclusive a China. Quanto mais tecnologia, mas se oferece hierarquia.
Ante
o exposto, parece que o planeta ainda não está apto a uma unificação, estando adequadas
à realidade atual posturas como Trump e Bolsonaro que lutam pelo nacionalismo.
Quanto a China parece ser a pátria com a cultura mais avançada e por isso deve
servir de modelo em vários aspectos, mas sua estrutura social consideravelmente
vertical sugere que ainda falta algo a lhe atribuir discernimento a liderar o
planeta.
Certo
é que o ser humano somente estará apto a viver como povo único, integrado e
pleno do planeta quando não mais precisar de líderes. E, pela suposta pandemia
global de 2020 fica evidente que estamos longe disso.
Obedecer a ordens cegamente ou as fazendo visando auferir alguma vantagem futuramente denota carência de orientação. E a sofrência por essa necessidade deixa vácuo a ser preenchido pelas armadilhas da tecnologia.
Consequentemente, a ONU presidir o planeta é um ideal ainda
distante.
5.
Conclusão
Da
parte que nos cabe como humanidade se deus quiser se emancipar[9]
de seu “cativeiro” que envie um robusto asteroide para dar cabo do Planeta. Mas,
descartada essa hipótese, não soa interessante emancipação divina se tivermos
que destruir o Planeta ao longo do nosso processo civilizatório ou supostamente
evolutivo.
Ao
que parece a mitologia de Atená dotada de alta tecnologia e influenciando as
várias culturas levará a destruição do Planeta. Já se a humanidade respeitar a
visão do Curupira poderemos conviver senão harmonicamente ao menos sem ódios
mesmo depois do ano de 2020 sufragado pela suposta pandemia alardeada pelo
tentáculo da ONU conhecido como OMS.
Afinal
de contas se somos todos criaturas porque direcionaríamos nosso ódio a quem não
pode resolver o problema.[10]
Se alguns escritos milenares estiverem corretamente interpretados no sentido
que a tecnologia[11]
nos foi trazida por serem divinos, sejam eles de outro planeta ou
transcendentais, devemos ao menos duvidar se toda essa suposta benesse que a
alquimia proporciona possa ser como o cavalo de Tróia ou algum tipo de baleia
de Jonas[12].
[1] O
Poder do Mito. Joseph Campbell. Editora Palas Athena. Página 34. Existe uma
polêmica se a Muralha da China pode ser vista da Lua ou não, mas o entendimento
prevalecente é que não a olho nu. A olho nu não há registro de nenhuma
construção visível a quem estiver fora da órbita imediata do Planeta.
[2]
Por reação em cadeia se entende tanto aquela do efeito dominó quanto de uma
segregação como a cadeia ou presídio. Seja no primeiro caso ou no segundo se
perde o contato com a fonte. No caso do dominó o último não teve qualquer
contato com a causa, o primeiro dominó. E, no segundo caso, o encarcerado
também vive alienado dos acontecimentos externos a cadeia.
[3]
Toma num sentido de afetação, fazendo parte da alteridade do caçador conforme
expressão da psicologia analítica.
[4]
Apesar do conhecimento popular brasileiro referir a uma caixa a melhor tradução
da mitologia grega é vaso.
[5]
Há grande polêmica social sobre o ato de crivar julgamento. Em um lado,
conotação elevada, se afirma que o ato de julgar é nobre e o julgador sábio; já
do outro lado, conotação negativa, julga quem não consegue organizar a própria
vida a assim se mete na vida alheia, ideia derivada da crítica “quem não sabe
fazer ensina”.
[6]
Nesse Mito um irmão só vê o passado e o outro só o futuro.
[7]
O movimento feminazi entende suposta superioridade face o homem. Ainda que na
Grécia antiga a sociedade fosse patriarcal nada impede que as feminazis da
época, mesmo sem o rótulo aglutinativo moderno, acreditassem que não lhes davam
os mesmos direitos que homens justamente por não reconhecer seu valor e por
retaliação a isso a retirada alguns atributos civis.
[8]
Apesar dessa frase ser comum nos EUA não se está fazendo referência somente a
esse país.
[9]
Parafraseando o Mito da Queda transcrito no capítulo 2 quando Isabela Fernandes
sugere que a suposta vantagem da perda de ignorância do casal teve como
vantagem se livrar do limitado cenário paradisíaco, aparentemente por
necessitar de especial sustentação de Deus.
[10]
Mesmo se nossa realidade for fractal como defendem alguns físicos ainda assim
de nada adiantaria “culpar” qualquer humano ou a humanidade como um todo, pois
a fractalidade resultará em ultima análise a uma responsabilidade individual
plena.
[11]
Há vários estudos de mitólogos nesse sentido e uma reportagem do canal History
defendendo que alienígenas estiveram no planeta não só para nos passar a
tecnologia, e também intervindo na genética humana. Provável a “doação” e a
intervenção sejam duas faces da mesma moeda.
[12]
Cavalo de Troia é a famosa estória grega de um presente que esconde uma porta
para invasão. Já Jonas e a Baleia metaforiza a ideia queinteligência superior
pode nos impor sua percepção.