A Queda
Introdução
1. Apropriação do Poder Público
2. Transformação
Conclusão
A Queda é uma expressão utilizada por
mitólogos para expressar o fim da inocência,
notadamente a mudança entre um mundo onde não há diferenças sequer entre quem
vê ou quem é visto, para o mundo dos opostos, tais como o sexual ou de qualquer
ordem social: “Macho e fêmea constituem uma oposição. Outra oposição é entre o
homem e Deus.”[1].
Isto acontece com todos os povos, desde os tribais e depois com o aparecimento
dos reinados os monarcas apropriaram a religiosidade primitiva mediante a
incorporação da imagem de divindade para justificar a dualidade face os plebeus.
Ocorre que com o aparecimento da polis
a situação se tornou mais complexa. É que com a possibilidade do governo sem
dualidade, ou seja, sem distinção de nobreza entre quem está no governo e quem
não está, a questão posta passou a ser outra: como escolher o governante que
possa responder adequadamente a função?
No entanto, ainda que essa indagação
parecesse a mais relevante não atende aos anseios do “salto quântico” que
efetivamente pusesse fim a apropriação do poder público por grupos sociais ou
familiares. Como tem contado a política, tanto numa democracia como na ditadura
o governante utiliza sua função antes para satisfazer seus interesses pessoais,
aí incluído seu grupo político, do que para empreender sua inteligência em
favor da coletividade. Daí a correspondência entre a Queda e a pólis na medida
em que o governante tem a consciência de que suas ações estão dissociadas do esperado. Ele sabe que no exercício da
posição governamental deve agir em favor do coletivo, mas o faz em favor de
interesses específicos que em sua sombria visão possam refletir para si.
O mundo
ou realidade dual onde os opostos ficam aparentes é um instrumento a
demonstrar que o homem está afastado de sua essência, pelo que a Queda ainda
que exprima uma situação de decadência oportuniza
que o homem se reconecte consigo.
Tal reconexão demanda o respeito
imperioso ao que é coletivo, notadamente dentro da operacionalidade
administrativa onde tudo é voltado ao povo. Uma plena, absoluta e irrestrita irresignação do governante, no que
tange ao exercício do múnus público.
Ocorre,
no entanto, que o nosso povo afliciona não só com a dualidade interna, mas
também com uma dualidade externa, pois se vê como colônia até hoje, mesmo tendo
uma voz equivalente a qualquer outra nação junto a ONU. É que o brasileiro vê sua
realidade como submissa aos EUA e Europa, acreditando na “piada” de que Cabral
descobriu o Brasil, como se aqui não houvesse tribos que tinham até sistema
refinado de comércio com vias de passagem e encontros ao longo do ano. Hoje
somos a soma de todas as culturas do planeta, mas ensinar na escola que o
Brasil foi descoberto por europeus é uma fraude que olvida a verdadeira
natureza de nosso povo, um caldeirão cultural de todas as etnias do planeta.
Quanto
a cultura patriarcal, também foi herdada do europeu notadamente dos
portugueses, já que as tribos brasileiras ou os africanos não adotam o estilo.
Nesse modelo, o macho pseudamente dominante faz um casamento ao estilo de um
reinado, como se a sua família tivesse valores predominantes face as demais.
Essa postura serve para a esposa como uma lição de que seu marido é importante.
Para o marido serve a ter uma mulher submissa que não o questione.
Em
todos os casos, existe um complexo de inferioridade cuja compensação, na dependência internacional, se dá com o brasileiro
buscando ser “amigo da corte”, como exemplo fazendo viagens aos EUA e Europa
para mostrar a todos sua importância. Enquanto o brasileiro projeta o poder
fora de si, nas potências mundiais, está retirando de sua própria nação o
ímpeto da responsabilidade.
Já
no prisma familiar a compensação se
dá aos olhos do marido com uma mulher que o protege; e sob o prisma da mulher
com um homem que a venera e nutre. Nessa perspectiva o que alimenta essa
perversidade no relacionamento é uma dependência
criada mentalmente como fuga de escape para quem acredita que a sociedade é
perversa e por isso a necessidade de um conjugue que assuma a função de
protetor ou nutridor, dando ao casamento a forma de casulo de proteção. Como se
vê, a matemática é simples: o cidadão através da dualidade vê o governo como o
puro mal e a partir daí fica carente de proteção. Então se escuda em suas
companhias familiares.
Em
suma, o temor, seja através do medo de um estado opressor, seja através do
politicamente correto expressam que o brasileiro não é capaz de se
auto-afirmar, tanto individualmente e também como nação. Daí a necessidade de
políticos corruptos que falem o que o povo quer ouvir no período eleitoral,
para depois tomarem para si a administração público em um círculo vicioso que
faz com que o cidadão odeie os políticos a ponto de não considera-los iguais a
si, desta maneira tomando força a dualidade da Queda.
1. Apropriação do Poder Público
Apropriar o poder público é o que todos
aqueles que não conseguem resolver seus próprios problemas buscam. Aqueles que
não conseguem ter uma vida familiar ou profissional saudável buscam, através da
figura do terceiro influente, uma forma de se destacar para, ato contínuo,
oprimir pessoas que eventualmente possam questionar seu estilo de vida.
Trata-se de um resíduo cultural da época dos reinados.
Na realidade, a verdadeira
funcionalidade do poder público é quando o governante somente utiliza de sua
função não privilegiando seus próprios interesses, ou seja, sempre pensando no
destinatário das ações. E tal conduta pode ocorrer predominantemente numa
ditadura do que numa democracia ou vice-versa. Esses conceitos, democracia face
ditadura, derivam de um raciocínio limitado que coloca demasiado valor na
eleição.
A eleição, ainda que relevante, é um
mero detalhe acessório da moralidade no serviço público. O que realmente
importa é que o governante tenha a consciência que seu trabalho é voltado ao
difuso e não especificamente a si; tenha o governante tomado a função com ou
sem eleição ou até depois de dez eleições seguidas.
Ressalto, no entanto, que a eleição
deve ter espaço e ser vista menos como uma disputa sanguinária e mais como uma
festa em que os rivais possam generosamente expor seus perfis profissionais em
favor de um pleito em que o eleitor tenha satisfação em preferir algum
candidato.
Ocorre que a corrupção já é favorecida
desde o pleito, em nosso Brasil de 2014. É que as eleições para prefeito,
governador e presidente são em chapa de principal e vice onde ambos são eleitos
conjuntamente. Esse modelo foi idealizado para aglutinar grupos políticos
distintos, para que juntos se apropriem do poder público em favor de si, seus
afetos e seus patrocinadores. Portanto, tal modelo entra em choque com a
impessoalidade governamental que se espera da sociedade consciente, não dual. A
eleição há de ser só para o principal e após eleito ele simplesmente escolhe
seu substituto entre seus assessores. O modelo de chapa é absolutamente
descabido e despropositado a uma sociedade que espera de seus governantes o
respeito ao coletivo.
Infelizmente a degradação não ocorre só
nos servidores obtidos pelo processo eleitoral. No caso dos concursados a
“coisa está tão feia” que mesmos servidores cujos certames exigem escolaridade
superior se colocam em situações vexatórias em meras entrevistas. É comum
promotor afirmar que “o ministério público pensa assim...”, quando na realidade
quem pensa daquela maneira é ele próprio até porque órgão público não pensa.
Autonomia não existe no serviço público. Nele impera a irresignação total do
ocupante do cargo ou função pública, desde o lixeiro municipal até o presidente
da república. No caso citado, não interessa à sociedade o que o promotor pensa,
mas sim o que ele faz, por isso que declarações como “o ministério público
pensa...” são fruto de atitude que atenta contra o respeito a impessoalidade,
seja porque o promotor não é pago para filosofar mas sim trabalhar no plano
concreto, seja porque o órgão público que ele integra não serve a estorvo de
suas percepções de mundo.
Essa situação vexatória se reflete em
todas as áreas: um carreirismo judiciário que transforma o juiz não num
terceiro sério e isento, mas sim numa vítima de delírios paranoicos tendentes a
considerar que os juízes são uma casta privilegiada. Eles deveriam ser
escolhidos dentre ocupantes de cargos públicos para um mandato fixo e depois retornarem
a seus cargos de origem. O que garante a isenção e seriedade de um terceiro
isento não é a toga de uma instituição que se considera estranha ao serviço
público, mas sim uma estrutura intraestatal que conscientize o juiz que o
julgador de hoje pode ser o julgado de amanhã, jamais um sistema onde juiz só é
julgado por outros juízes e cujo exoneração só possa ocorrer por processamento
deles próprios. Esse judiciário funciona de forma oposta ao que se espera dele:
ao invés de servir a sociedade, serve antes a si próprio e consequentemente a
quem for influente, seja econômica ou politicamente, visando com essa política
garantir sua condição de casta superior. Esse é o Brasil 2014 !
Enfim, sob uma perspectiva
institucional o servidor público concursado integra uma empresa, podendo aí se
relacionar de todas as formas. Mas sob a perspectiva funcional impera sua plena
irresignação. Não lhe cabe nenhuma autonomia, senão atuar em prol da sociedade.
Seu raciocínio é absolutamente vinculado a atender os interesses da coletividade.
No serviço público o profissional é uma mera peça voltada a funcionar para o
coletivo: o lixeiro municipal, presidente, juiz, delegado todos tem a mesma
autonomia para trabalhar: nenhuma. Seus múnus são absolutamente vinculados a
atender o coletivo. Ressalto que a discricionariedade não é dada sequer ao
presidente, pois mesmo quando ele utiliza seu raciocínio para escolher entre
obras, o fará esteirando a lógica através dos interesses do coletivo. Os únicos
agentes públicos dotados de uma certa autonomia são os parlamentares, pois o
processo de formação das leis ocasiona uma imaginação filosófica que pode
implicar num exercício de abstração autônomo, ainda que tal silogismo também se
dê considerando que o parlamentar está funcionando em favor do coletivo. É que
no âmbito de formação de leis a própria questão do que é interesse do povo fica
demasiadamente pulverizada. E, também, porque a única decisão de agente público
que não precisa de fundamentação é o voto parlamentar. Talvez quando houver
necessidade de fundamentação nesse mister tal suposta autonomia finde.
No mais, o poder público está
totalmente contaminado por agentes que assaltam, saqueiam os cofres públicos:
senadores, deputados e vereadores com dezenas de assessores, que nada
acrescentam a finalidade do mandato e ainda são demasiadamente remunerados; uma
polícia que não tem compromisso com a transparência; a falta de uma instituição
forte que investigue criminalmente indistintamente. Uma figura anômala chamada
de cartório que cobra por serviços que deveriam ser gratuitos ou no máximo
cobrados valor simbólico, e ainda incorpora o título de autenticadora, que não
passa de formalismo sem nenhuma garantia de conteúdo.
Por certo, o único meio a começar uma
mudança é nova Constituição, desde que os parlamentares se conscientizem em
“cortar na própria carne”, com a desnecessidade de várias estruturas estatais,
tais como câmara de vereadores e senado. E, ainda a criação de uma instituição
que ofereça independência para investigação criminal federal e estadual, pois a
esteira a garantir que os administradores estatais não cedam as suas fraquezas
é a certeza de que nada adianta fazer “maracutaia”, pois ela seria descoberta.
É que enquanto eles tiverem algum acesso ao órgão que lhe investiga não
perdoarão os cofres públicos, pois acreditarão que receberão informações sobre
eventuais investigações contra si e assim lhe franqueando o poder de abortá-las.
A situação adequada é que o
administrador se conscientize da importância de sua função, mas como a
sociedade é um sistema temos que conceber a hipótese do governante se desviar
da retidão. Nesse caso a investigação criminal deve ser pontual. E isso só é
possível com uma agência própria cuja única atribuição seja a investigação
criminal e ainda cuja independência seja plena, com forte lei própria, e
escolha de seus dirigentes pelos seus próprios membros sem nenhuma interferência do
governo.
2. Transformação
A
superação desse modelo odioso somente ocorre com o retorno a condição anterior
a queda, ou seja, a aceitação de que o governante é corrupto porque o
brasileiro atrai isso. Enquanto o cidadão não aceitar que tem o governante que
merece não olhará para si e continuará projetando sua sombra no governo, ou,
pior ainda, nem se interessando em participar do processo eleitoral.
A
participação no processo eleitoral deve ser a mais intensa possível. Mesmo
considerando que ninguém vota em quem quer, ou seja, ninguém pode simplesmente
escolher em quem vai votar, pelo contrário, fica diante de uma maquininha tendo
que escolher entre alguns candidatos que foram anteriormente escolhidos em
convenções prévias. Portanto, o voto nunca será algo de todo agradável, ao
invés, o eleitor tem que escolher um dentre os que estão disponíveis. Mesmo
assim é imperioso que ele se contagie em escolher aquele que tem a maior
capacidade frente aos demais para colaborar com a coletividade governando o
ente público. Assim, deve ser em qualquer eleição: prefeito, governador,
presidente ou síndico condominial, diretor de associação e por aí vai. Sempre
que alguém governar algo em favor do coletivo, todos devem se empenhar,
acompanhando e se interessando visando escolher o melhor dentre os possíveis,
inclusive se oferecendo para ser votado em todas as situações onde tal
participação for viável.
Transformar é estar satisfeito com a
situação, é antes de qualquer coisa um desejo de manutenção da ordem, não
por medo de eventual alteração no ambiente ou em si próprio, mas sim porque se
gosta dos acontecimentos, se interage com as situações de forma harmônica,
respeitosa, contagiante. Por certo, o brasileiro não está satisfeito com seu
governo atual notadamente porque sabe que são aventureiros que só querem se
locupletar na dependência dos outros. São políticos profissionais que abdicaram
de sua essência como seres humanos para buscarem o status governamental como um
fim em si mesmo.
No
Brasil 2014 perseguem os aspirantes ao governo um trabalho que os faça superior
aos demais cidadãos, seja através do poder econômico obtido com corrupção
direta ou indireta, como consultorias; seja através do tráfico de influência ou
cabide de emprego que instrumentalizam com o governo nas mãos. Como se vê, os
políticos de hoje são o extremo da infelicidade, pois eles dependem dos outros
para sobreviver. E, muito pior do que simplesmente depender, é o fazer a base
de mentiras, de dupla face, prometendo tudo no período eleitoral sem qualquer
compromisso com o que se está dizendo.
Existe
a necessidade de conscientizar o brasileiro que governar não é sinônimo de
paraíso, algo como uma carta branca divina útil a tomada da administração
pública em favor de si e de simpatizantes; mas sim uma função de total
irresignação, onde toda a inteligência é voltada ao coletivo. No governo tudo é
absolutamente sagrado. Desde a carteira funcional, os assessores, os carros, os
papéis, os telefones, tudo existe não para servir os governantes, mas para que
eles possam usar a estrutura em favor do coletivo.
Vale
lembrar ainda o patrimônio nacional que é a imagem pública. Hoje existe uma
profunda distorção no esporte, nesse aspecto. Vejamos, no futebol, por exemplo,
a CBF tem como receita a comercialização de ingressos, direitos televisivos e
patrocínios, ou seja, não recebe dinheiro dos cofres públicos, e, por isso,
acredita não precisa prestar contas em caráter público. Então, a partir dessa
ideia, gasta seu dinheiro com fins que a legislação considera inadmissível para
um órgão que gerencia verba coletiva. Em suma, a renda da CBF não provém de
impostos, no entanto, deriva direta ou indiretamente de patrimônios públicos,
como o patrocínio da seleção ou a venda de ingressos de seus jogos. Mas, a CBF
se dá ao luxo de acreditar que não precisa prestar contas a coletividade. Como
se vê, trata-se de desvio de dinheiro público, uma forma de corrupção, pois os
gastos da CBF não respeitam qualquer procedimento natural do serviço público,
como a licitação.
Falta
sacramentar o respeito a coletividade a todos aqueles que agem em razão de
cargos públicos ou gerenciando ativos públicos, quaisquer que seja a origem. É
sagrado tudo com essa natureza e cabe ao cidadão que lida nessa atividade
absolutíssimo compromisso em respeitar tal condição: o que é voltado ao público
não pode ser apropriado pelo administrador.
Transformar
é estar satisfeito. Transformar é uma condição, um estado num nível de evolução
acima do medo ou receio de mudança. Quem se preocupa seja para manter eventual
status vigente, seja para alterá-lo, não está no estado da transformação. Estar
se transformando implica a uma compatibilidade com os acontecimentos sejam eles
voltados para uma manutenção da ordem, seja eles voltados para refundação dela.
Transformar só é possível para
quem vê a administração pública como uma sacralidade, no nível máximo do
sagrado: é a irresignação total de quem se responsabiliza nessa seara. Quem for
capaz de agir assim estará naturalmente em estado de transformação, pois quando
o homem não precisa se apropriar das zonas de interseção entre seus iguais é
porque pode se dar ao luxo de agir com franqueza perante o mundo em todas as
variedades de situações. Viva a esse homem!
Conclusão
Seria
perfeito se já vivêssemos no mundo onde os governantes alcançaram o nível da
transformação. Porque não é assim? O que falta ao povo brasileiro para se
conscientizar? A Queda é a metáfora exata a demonstrar ilustrativamente a
resposta.
A
realidade do sofrer, da angústia, notadamente o ambiente onde a perturbação
rasga, corrói, corrompe é o mundo dos opostos, mais precisamente através do
pré-conceito: rico face pobre, suburbano face elite, bonito face feio, governo
face cidadão, aceito face rejeitado. Que vê sua própria existência segmentada
por tais polos onde um é aceito e o outro é rejeitado sofre todas as dores de
sua visão. A diversidade é natural, mas ela não desagua necessariamente no
pré-conceito. A transformação está em perceber diferenças, mas não taxá-las de
melhores ante piores. Pode haver afeto com algo e não haver com outra, mas não
porque uma é aceita e a outra rejeitada.
O
nível da transformação é o da diversidade, mas não o da segregação. E tal
diferença só fica visível quando se considera no raciocínio a administração
pública. Se o governante age, no exercício da função, com a seriedade da irresignação, então qualquer
seletividade significará diversidade; já se ele age se apropriando da coisa
pública a seletividade significará segregação. No primeiro caso, tanto para
quem está no governo quanto para quem não é “amigo do rei” escolher o que mais
agrada é ato de vibração, de acolhimento, de completude; já no segundo caso, na
mesma situação, escolher o que mais agrada é ato de ódio, de segregação, de
rompimento, de deformidade.
Percebe-se,
ante o exposto, que o estado de transformação ocorre simultaneamente para quem
estão no governo e quem não está, ou seja, o cidadão que for preconceituoso
terá um governo corrupto, já o cidadão que souber conviver com a diversidade receberá
o governante que exerce a função pela irresignação.
Como
se vê, as dores da Queda são sentidas por quem é preconceituoso na medida em
que esse cidadão precisa se aliar a alguém corrupto que o ajude a segmentar a
realidade de uma maneira que suas ideias façam sentido. Já para quem convive
com a diversidade não há o sofrimento ou aflição da separação causada pela Queda,
não havendo aqui a necessidade de corrupção.
Na
realidade, sob um aspecto profundo do mente do cidadão, a Queda simboliza o
reconhecimento de que a visão familiar é limitada, pois o que os pais pensam
não é uma “verdade absoluta”. Esse é o fim da inocência. Já a aceitação da
diversidade é o religamento à
condição de confiança anterior a Queda. É o resgate da alegria em participar e
contribuir. Em suma, num processo psíquico, o homem é uma criatura dos pais até
se dar conta disto e passar a desconfiar de tudo e todos. Nessa fase de
insegurança se recorre a corrupção como forma de minimizar o medo. Mas, se o homem for capaz de
recuperar a autoestima, então, ele estará apto a reconhecer como digna não só a
sua família, e também todas as demais.
Nesse
ambiente o governo passa a ter toda a excelência natural da sociedade que
compreende que a administração pública é sagrada, jamais seus ocupantes.
Bibliografia:
CAMPBELL, Joseph, O Poder do Mito, Editora
Palas Athena.
CAMPBELL, Joseph, O herói de Mil
Faces, Editora Pensamento.
JUNG,
Carl Gustav, Tipos Psicológicos, Editora Vozes.
JUNG,
Carl Gustav, Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, Editora Vozes.
FERNANDES,
Isabela e Flávia Schlee Eyler, A Vida, a Morte e as Paixões no Mundo Antigo:
novas perspectivas, Editora Cassará.